Carta para um universitário ansioso

Era mais um típico domingo à noite por volta das 18h. Pego meus documentos, confiro se fechei corretamente o portão de casa e saio junto com minha mãe. O destino, no entanto, não era a reunião da igreja como faço habitualmente aos domingos nesse horário.

Chego no hospital, espero ser atendido pelo médico, e, logo após o famigerado diagnóstico de virose, o homem de jaleco na sala me faz mais uma pergunta antes de me encaminhar à enfermaria para ser medicado:

– Desde quando você está sentindo isso tudo?

– Começou mais ou menos na quinta, doutor. Mas só hoje que veio ficar mais forte…

– Ah, então está explicado. Você está muito ansioso, garoto. Mas não se preocupe, vai ficar tudo bem, deve ser o estresse. Tome esse medicamento aqui e fique tranquilo!

Se você já viveu uma cena parecida com a que acabei de narrar acima, deve saber bem o que é passar por uma crise de ansiedade. Se você, no entanto, nunca chegou ao ponto de precisar de uma dose de soro, mas de vez em quando sente alguns sintomas estranhos como crise de choro, uma falta de ar e um aperto no peito do tamanho da torcida do Flamengo, dor de cabeça (ou até de barriga), e simplesmente paralisa em plenas vésperas de uma prova ou da entrega de um ou mais trabalhos importantes… É com você que preciso falar.

NÃO ACREDITE NA ANSIEDADE

Antes de qualquer coisa, a ansiedade é uma mentirosa profissional. Nos faz acreditar que qualquer onda pode se transformar em um tsunami e que podemos nos afogar em qualquer copo d’água. Esse fenômeno tem explicações mais científicas às quais não quero me aprofundar aqui porque não vem ao caso… Mas o fato é que precisamos da ansiedade — assim como precisamos do medo — para sobreviver por questões de instinto mesmo.

De frente a um leão selvagem precisamos apenas de mais adrenalina e o coração batendo mais rápido para bombear mais sangue para todo o corpo e ajudar na nossa corrida de fuga. O problema é que não vivemos mais fugindo de onças e uma prova na faculdade não é nenhum leão selvagem: mas é nisso que a ansiedade lhe faz acreditar.

E é por isso que você paralisa — ou sempre foge dos livros — em vésperas de enfrentar a fera.

Da próxima vez, vá resolver aquela lista de exercícios que você sabe que cai na prova mesmo que seu corpo lhe mande sinais que orientem a fugir. Acredite em seu propósito, no que você realmente quer construir. Jamais acredite nas mentiras da ansiedade.

IDENTIFIQUE E EVITE ESTÍMULOS

Uma vez que entendemos a ansiedade como um processo biológico, podemos ficar mais atentos a situações e gatilhos que podem estimular a próxima crise. Desde esse episódio onde — não pela primeira vez — fui parar no hospital por conta desse problema, tenho me dedicado a buscar fontes sérias e entender melhor como lidar com esse desafio.

De modo particular, percebi que uma boa dose de cafeína aliada a uma lista extensa de entregas e provas em um curto espaço de tempo, regada com algumas horas no Instagram, é uma mistura perfeita para ativar a ansiedade.

É provável você enfrente outros estímulos, como o álcool, a pornografia, os medicamentos que você já toma ou até mesmo os problemas financeiros — às vezes nosso instinto também associa um boleto com um animal selvagem. Abaixo¹, vou deixar alguns links que explicam melhor a relação desses gatilhos com o disparo da ansiedade com algumas dicas práticas do que pode ser feito. Por hora, se esforce pra identificar quais estímulos ajudam seu corpo a disparar o alarme da ansiedade e deixar esses hábitos de lado.

Seja responsável. A sua saúde agradece!

VOCÊ NÃO É ESPECIAL POR TER ANSIEDADE

Talvez não fosse isso o que você estivesse esperando ouvir, mas você é apenas mais um em uma significativa parcela da população mundial que precisa lidar com esse desafio no seu cotidiano. O Brasil, por exemplo, é o país mais ansioso do mundo e, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), mais de 18 milhões de brasileiros, ou seja 9 a cada 100 pessoas, sofrem com esse problema. O Brasil também é o terceiro no ranking de uso da internet², com a média de uso por habitante de 9 horas e 14 minutos por dia, sendo 4 horas e 21 minutos apenas conectado ao celular… Alguma coincidência?

EU NÃO SOU NENHUM MÉDICO.

Quando paro para pensar que como engenheiro ainda posso levar alguns anos depois de formado para ter minha hora de trabalho valendo 100 reais e que, como estudante de medicina, eu poderia ganhar isso no primeiro plantão no primeiro dia depois de formado, confesso que queria muito ter essa licença pra dizer “sou estudante de medicina e aprendi que…” Mas não sou!

Portanto, procure a ajuda de um especialista que estiver ao seu alcance e não encare a ansiedade só como “um ataque dos nervos”; encare-a como um problema precisa ser enfrentado! Não é somente porque estamos em setembro que a sua saúde mental é importante — é porque você precisa dela para viver bem nos outros 11 meses do ano.

Nenhum sucesso na sua carreira será capaz de justificar um fracasso na sua saúde.

Não permita que a ansiedade de assalto roube seu futuro. Procure ajuda antes!

  • Anderson Sales, estudante de Engenharia de Produção na UFRN, participa da Cru Campus desde 2017.

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